Saturday, January 3, 2009

Pekiwa - Inovações em Madeira

Quando chegar ao atelier de Pekiwa, no Rio Matola, a quase vinte quilómetros de Maputo, saberá que terá chegado a uma residência que é inconfundivelmente de um artista. Apesar do espaço ser uma obra em processo, torna-se imediatamente evidente o porquê de Pekiwa escolher viver justamente bastante longe do barulho e da confusão da cidade capital, num paraíso natural construído pelas suas próprias mãos, mãos de artista.

Com a sua casa modesta e atelier na mesma parcela, Pekiwa transformou o seu pedaço de terra numa galeria de esculturas ao ar livre. Entre plantas nativas e um jardim artístico, os visitantes recebem boas-vindas calorosas e são levados para uma vasta colecção de esculturas ornando a propriedade.
Pekiwa é herdeiro duma legado rico de escultura moçambicana em madeira, sendo descendente artístico do escultor Govane, seu pai biológico. Govane é um contemporâneo de Alberto Chissano que iniciou a escultura moderna de madeira em Moçambique. Mesmo depois de se suicidar em 1994, Chissano permanece como um dos artistas mais famosos de Moçambique, a par do pintor Malagatana. Chissano abriu as portas para Govane e uma geração de escultores que surgiram durante a época da independência de Moçambique e cujo trabalho foi considerado uma voz de resistência contra o poder e a opressão colonial.

Porém, Govane, ele mesmo um escultor bem-respeitado, não reagiu favoravelmente quando soube que seu filho possuía uma inclinação para criar arte de madeira. Com medo da desaprovação de seu pai, o adolescente Pekiwa costumava pegar em ferramentas quando seu pai estava fora cuidando das suas colheitas e começou a aprender como esculpir. Mas, quando viu o que seu filho tinha feito em segredo, Govane zangou-se e quebrou as suas primeiras obras.
Pekiwa tem muitas histórias divertidas para contar sobre as batalhas que teve com seu pai (incluindo a vez em que Govane cortou as suas rastas), mas foi quando Govane finalmente o mandou embora de casa com a idade de dezoito anos que começou o processo de “se libertar da influência do seu pai” e a definir a sua própria identidade artística. Hoje em dia, as lutas de Pekiwa são uma coisa do passado e existe respeito mútuo entre estes grandes artistas. Se Govane representa a velha guarda modernista, talvez Pekiwa e suas obras—que mais recentemente são objectos achados e reciclados esculpidos com uma estética modernista—anuncie uma nova geração pós-moderna.

Logo depois de começar a viver por conta própria, Pekiwa abandonou o nome de Nelson Augusto Carlos Ferreira e combinou sons diferentes de que gostava para formar “Pekiwa,” o nome artístico pelo que é agora conhecido. Pekiwa diz que está feliz porque agora pessoas lhe dizem que “olham para suas obras e podem identificá-las como dele.” Além de esculpir em sândalo e outras madeiras, Pekiwa é um dos poucos, se não o único escultor em Moçambique, que trabalha com objectos achados e reciclados. Ele diz que estes materiais—carris, portas antigas e caixilhos velhos de janelas –“transmitem mensagens devido à sua riqueza histórica.” Está fascinado por “transformar algo velho em algo novo, enquanto permite que o velho retenha a sua integridade rústica.”

Pekiwa apaixonou-se pela Ilha de Moçambique onde esteve várias vezes, ficando por lá a residir durante dois meses de cada vez. Para Pekiwa, a “Ilha” é uma caixa de tesouros cheia de artefactos e arquitectura histórica muita da qual data do século dezoito e mesmo de antes. Durante as suas permanências na Ilha, Pekiwa diz que passeava pelos bairros e achava nas ruínas pedaços e objectos que o chamavam, pedindo para lhes ser dada uma nova vida.

Não são só as relíquias dos dias passados que o inspiram, mas também o povo da Ilha, as cores e as diferenças com a sua província natal de Maputo. Distinto da geração de seu pai, que expressava sofrimento, fome e violência nas suas obras, a arte de Pekiwa é caracterizada pela procura de esperança e beleza na experiência humana e é inspirada por coisas simples da vida quotidiana—como em movimento, tatuagens ancestrais, relações entre pessoas, mulheres e crianças no mercado, e gente encontrando felicidade apesar das suas lutas diárias. Pekiwa diz que “vê coisas lindas” quando se senta com “os velhos a tomar um copo nas barracas”, observando apenas e escutando o conhecimento que acumularam.

Embora começasse a sua carreira a vender as suas esculturas na Feira do Aretesanato aos Sábados, hoje em dia vende principalmente a indivíduos, empresas e organizações que compram as suas obras em exposições ou depois de visitarem o seu atelier. Tem sempre conseguido sobreviver das suas esculturas que atraem a atenção de clientes diversos. A sua produção é constante e as suas obras geralmente vendem-se rapidamente. Não obstante e felizmente, Pekiwa, que acabou de completar 30 anos, tem pela frente uma carreira longa de inovação na arte de escultura de madeira.

Para se ligar com Pekiwa directamente, por favor contacte
pekiwa77@yahoo.com.br ou +258-82-8958770.

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